SUA PELE

A REVOLUÇÃO DOS CREMES ANTI-IDADE



Além de pesquisar novas formas de ação dos componentes, hoje em dia os princípios ativos podem ser protegidos por vesículas minúsculas, invisíveis a olho nu, que alcançam camadas mais profundas da pele e chegam lá mais íntegras. As chamadas nanocápsulas podem funcionar como um reservatório que libera os compostos lentamente, aumentando a eficácia deles e evitando o surgimento de irritações, como costumava acontecer com as formulações à base de retinol. O recurso é tão poderoso que tem levantado questões acaloradas na comunidade médica.

 

Afinal, existe a possibilidade de essas substâncias caírem na circulação sanguínea e provocarem algum dano à saúde. “Em 2009, a União Europeia publicou uma norma definindo que toda empresa que fabrica cosmético com nanotecnologia precisa apresentar testes que comprovem a segurança do produto, garantindo até que ponto ele penetra”, diz Lucas Portilho, farmacêutico especialista em cosmetologia e presidente da Sociedade Brasileira de Educação (SBE) em cosmetologia, nutrição e farmácia, em Campinas (SP). Por aqui, também existem estudos de segurança, mas ainda não há uma regulamentação específica.

 

Segundo Ediléia Bagatin, professora do departamento de dermatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), não é desejável que um cosmético penetre na derme (a segunda camada da pele) porque lá existe circulação sanguínea. Mas se ficar na parte superficial, chamada de camada córnea, também não funcionará direito. “Essa é a região onde existem as células mortas, que são eliminadas pela descamação natural e levam com elas os princípios ativos. Então, é necessário alcançar uma camada intermediária, com células vivas e metabolicamente muito ativas, que, sabemos hoje, se comunicam com as da derme e produzem o efeito esperado”, diz Ediléia.

 

Revolução nas texturas
Para resolver essa equação, a saída foi manipular o meio onde ficam contidos os princípios ativos do cosmético, o que os especialistas chamam de veículo (o transporte que vai carregar as substâncias para dentro da pele) e nós, não profissionais, atribuímos à textura, como creme, gel-creme, sérum... Antigamente, a maioria dos veículos era extremamente oleosa e, por isso, retinha as moléculas, bem maiores do que as produzidas hoje, na superfície, reduzindo a eficiência delas. “Cerca de 90% do resultado que um cosmético vai atingir depende do veículo dele.

 

Alguns facilitam mais a permeação dos ativos na pele e outros potencializam seus efeitos”, afirma Vânia Leite, vice-presidente da área técnica da Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC). Por exemplo, como a atuação do filtro solar é mais superficial, o objetivo é que ele não penetre na pele, mas forme um filme sobre ela. Então, a viscosidade dele será um pouco maior do que a de um creme anti-idade, que deve chegar a camadas intermediárias. Já o ácido salicílico, indicado para o tratamento da acne, não funciona tão bem em um meio oleoso, que piora o quadro e, portanto, dificulta a ação do produto.

 

Mais estáveis sob o sol
Outro avanço na história dos cosméticos foi o da ação deles sob o sol. “Os filtros solares se degradavam na presença da luz e perdiam o efeito em uma ou duas horas”, afirma Vânia, da ABC. “Agora, eles duram mais tempo porque, apesar de serem desgastados enquanto refletem ou absorvem parte da radiação ou reagem com ela, têm maior fotoestabilidade”, explica o dermatologista Adílson Costa, chefe do serviço de dermatologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. Esse mecanismo de atuação protege não só contra as queimaduras, o câncer de pele, o surgimento de manchas e o envelhecimento precoce como também ajuda a preservar os ativos dos cremes anti-idade para serem usados durante o dia e que contêm fator de proteção.

 

Mas se existe algo que a tecnologia não consegue resolver é o mau hábito de não seguir à risca o modo de usar dos cosméticos: não reaplicar o protetor solar, passar o creme anti-idade só de vez em quando, deixar de observar se o produto é adequado para as suas necessidades e o seu tipo de pele... Não há avanço científico que funcione com essa torcida contra. Portanto, que tal botar ordem na rotina de beleza e, assim, aproveitar o que anos de desenvolvimento trouxeram de bom para o nécessaire?

 

Mas se existe algo que a tecnologia não consegue resolver é o mau hábito de não seguir à risca o modo de usar dos cosméticos: não reaplicar o protetor solar, passar o creme anti-idade só de vez em quando, deixar de observar se o produto é adequado para as suas necessidades e o seu tipo de pele... Não há avanço científico que funcione com essa torcida contra. Portanto, que tal botar ordem na rotina de beleza e, assim, aproveitar o que anos de desenvolvimento trouxeram de bom para o nécessaire?

 

Ativos turbinados
Entenda como evoluíram as principais substâncias dos cosméticos

 

Vitamina E: tem efeito antioxidante, protegendo contra os radicais livres. O que mudou ao longo dos anos foi que as pesquisas passaram a comprovar a eficiência do ativo tanto para o cabelo como para a pele. E, como é uma substância de fácil manipulação, a indústria tem inserido a vitamina E em vários cosméticos, de hidratantes a filtros solares.

 

Retinol: extraído da vitamina A, o retinol se transforma em retinoldeído e depois em ácido retinoico. Renova as células e estimula a produção de colágeno. “A concentração de retinol permitida em cosméticos cresceu de 0,075%, que praticamente não produzia nenhum efeito, para 0,3%”, explica Ediléia. O objetivo é fazer com que a ação dele se aproxime o máximo possível da do ácido retinoico, que é um medicamento. “Outro avanço foi o nanoencapsulamento, que, além de proteger o retinol da degradação e, assim, garantir que seja mais eficiente do que antes, permite que ele irrite menos a pele, seja mais bem absorvido e tenha um efeito mais prolongado, já que é liberado aos poucos”, diz Vânia.

 

Ácido glicólico: além de melhorar a textura da pele, também combate cravos e diminui os poros. Por isso, é indicado para o tratamento da acne. No passado, o ácido glicólico era utilizado apenas como esfoliante. Agora, é possível controlar o pH dele para que possa ser mais neutro e, além de agredir menos, atuar também como hidratante.

 

Ácido hialurônico: presente naturalmente na pele, atua como hidratante, já que atrai e retém a água. A fragmentação dele em partículas menores tem permitido melhores resultados nos cosméticos.

 

Vitamina C: potente antioxidante, costuma ser associado ao retinol. “Há estudos que comprovam que ela também estimula a produção de colágeno”, diz Ediléia. Com a chegada das nanopartículas, que protegem a vitamina da degradação, ela voltou ao centro das atenções. A concentração também aumentou – até 15%.

Extratos vegetais: a principal função deles é a antioxidante, embora ainda faltem estudos de longo prazo que comprovem os efeitos. A tendência é combinar o uso tópico com o oral. Já existem várias opções de comprimidos antioxidantes. “O que mudou nos ativos vegetais foi a forma de extração. Antes, eles eram retirados com a utilização de infusões e solventes – o calor e os produtos químicos danificavam as estruturas das plantas e diminuíam seus efeitos. Agora, existe a extração por pressão, que mantém as propriedades”, esclarece Vânia.

 

Ácido salicílico: além de esfoliante, controla a oleosidade e tem propriedades antimicrobianas e antiinflamatórias. “Hoje, o ácido é encapsulado em ciclodextrina, que se assemelha a conezinhos
de açúcar. Em contato com a pele, essa estrutura vai se desfazendo lentamente e liberando, aos poucos, a substância. Com isso, há menos irritação”, detalha Vânia.


Fonte: Revista Abril

POSTADO EM 01/04/2014

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